O UNIVERSALISMO EUROPEU
Vilson Dias Morales
Centro Universitário
Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Licenciatura em
História (HID 0174) – Trabalho de Graduação
07/07/12
RESUMO
A história do sistema-mundo moderno tem sido, em grande parte, a
história da expansão dos povos e dos Estados europeus pelo resto do mundo, os reflexos dos acontecimentos ao
redor do planeta se enfocam cada vez mais em termos políticos, pois políticas
de contenções frente a grandes eventos contra a sociedade cada vez mais são
decididas por nossos líderes.
Vivemos em uma batalha iminente
entre o bem e o mal, onde nossas vidas são decididas em um simples piscar de
olhos, isto é, em um momento estamos sendo noticiados por guerras terroristas,
em outro momento fazemos parte delas.
Direitos Humanos, choque entre
civilizações e a negação de alternativas político-econômicas regem os
princípios do Universalismo. Um universalismo questionável de valores, atitudes
e ideais, pois este mesmo toma como base o berço da civilização, a Europa. Os
parâmetros que são discutidos são os pré-estabelecidos pelo denominada
Universalismo Europeu, isto é, sua ideologia, onde buscam-se alternativas para
a fuga de pensamentos e a construção de um Universalismo Universal. A
disparidade de verdades e valores da civilização é o enfoque a ser estudado,
pois é necessário compreender quais são as influências necessárias para que
determinadas decisões sejam tomadas.
Palavras chave: universalismo;
europeu; civilizações.
1 INTRODUÇÃO
No
pódio dos valores e virtudes, cada Estado utiliza as armas que pode para poder
batalhar e assumir posições de liderança frente à cultura de outros Estados. A
superação de uns sobre outros aparecem cada vez mais de maneiras distintas,
sendo de forma econômica, política, cultural, ou até mesmo nos valores
implícitos concentrados em cada uma delas, isto é, a maneira como concentra sua
política relacional com outros Estados, ou a simples recepção de estrangeiros
em seus países. Porém como determinar quem atua de maneira correta frente aos
inúmeros valores da sociedade mundial?
Remotamente há 519 anos, Cristovão
Colombo frente às caravelas Pinta, Nina e Santa Maria chegou ao novo
continente, hoje denominado América em 1492, seus costumes eram distintos dos
apresentados no continente pelos índios americanos. “Um povo bárbaro, selvagem
e que não sabe se portar frente à sociedade civilizada”, esse era o pensamento
espanhol em relação ao contato com a nova cultura. De meados de 1500 até os
resquícios hoje espalhados por este continente, muitos hábitos foram
considerados errôneos, assim sendo extintos e impostos novos, onde quem
continha o poder em mãos, fez prevalecer suas escolhas. Essa imposição de uma
cultura sobre a outra, é cada vez mais comum, o que se distingue são as
maneiras de defesa encontradas. A colonização feita pelas diversas etnias
européias na América, África e Ásia extinguiu muitos costumes e foram impostos
muitos outros, ou seja, é uma imposição arbitrária sem direito de voto, escolha
ou se quer uma plebiscito, onde a diversidade de opiniões pudesse ser aclamada.
Bartolomé de las Casas, sacerdote cristão espanhol acreditava que a política de
expansão e colonização espanhola era correta e absoluta perante os índios,
entretanto influenciado pelo frade Antonio de Montesinos, cuja opinião era
desfavorável ao método de colonização espanhol, consentiu que a melhor forma de
colonização e procriação das leis do Estado e da Igreja era de forma pacífica.
E os espanhóis ainda consideravam o comportamento dos índios bruto. De las
Casas perde sua influência com o emergir do príncipe Felipe, sucessor de seu
pai no trono real espanhol. É nesse contexto que Juan Ginés de Sepúlveda com
pensamentos e opiniões distintas de De las Casas, onde Sepúlveda considerava os
índios como seres inferiores. Ambos foram levados a um debate, onde o resultado
acredita-se desconhecido devido a uma imparcialidade de veredito do júri.
A exploração no passado reflete
ainda no contexto mundial vigente (Wallerstein,
Immanuel, 2007), onde certas culturas acreditam serem superiores a
outras. Outrora nos dias de hoje o contexto econômico, que em épocas distantes
não influenciava tanto. Não é necessário se remeter ao passado para vermos essa
projeção de uma cultura massacrando à outra, ou seja, neste sentido, é recordar
acontecimentos ainda recentes desta última década onde uma cultura confrontou a
outra, como no caso dos latino-americanos barrados e escorraçados em salas
escuras e com poucas condições de higiene nos aeroportos espanhóis nos anos de 2007
e 2008. A contenção de vestes muçulmanas na França em Abril de 2011, não deixa
de ser uma forma de abdicação de uma cultura para conviver em outra, sendo que
isso afronta os direitos de livre expressão. É preciso usar uma diplomacia de
princípios neste caso, conviver com a diferença não é algo frustrante nem
ameaçador à cultura nacionalista de um Estado nos dias de hoje, além de que,
nem um país possui uma cultura pura, isto é, afastada de contato com outras,
além do mais, é enriquecedor para ambos os lados esse confronto de diferenças,
pois é a partir daí, que uma cultura híbrida é capaz de nascer e enriquecer
cada vez mais.
2 DESENVOLVIMENTO
E
esse afrontamento de culturas é ampliado cada vez mais, visto que o formoso
Conselho de Segurança da ONU é formado por cinco membros permanentes, sendo
eles Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e França, onde estes possuem força
para romper e criar sansões de segurança mundial, e outros dez membros
temporários, renovados a cada dois anos, isto é, no mau termo das palavras, se
os cinco membros estiverem de acordo em relação a algum evento em que suas
opiniões sejam semelhantes, independente se esta opinião for a favor ou contra,
eles agirão. Ou seja, de certa forma, o poder mundial está hegemonicamente
interligado entre esses cinco membros. Embora houvesse uma desavença mundial
por parte dos cinco grandes, a relação da cadeira a disposição dos 15 países
deveriam ser renovada para que todos conseguissem exercer seu papel em
contextos mundiais, visto que é Organização das Nações Unidas, e não
Organização das Cinco Nações Unidas.
Esse afrontamento de nações
pressupõe uma intragável discussão sobre os Direitos Universais do Ser-Humano,
sendo que o Artigo XIX da Declaração dos Direitos Universais consiste em: “Toda
pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras, isto é, todos possuem o direito de manifestar sua cultura, opinião,
expressão perante qualquer Estado, porém isso é recluso a cada estado, pois em
determinados Estados, certas crenças e atitudes são considerados crimes, como a
poligamia presente em tradições islâmicas(Grabianowsk) e absolutamente proibida
em outros Estados.
É algo incessantemente discutido em
todas as nações, pois até onde o limite de liberdade de expressão de uma
cultura não afronta outra? Qual o limite para determinados atos de uma cultura
dentro da outra? São questões que toda a sociedade ainda enfrentará e
decorrerão discursos por ainda muitos anos, visto que é muito mais fácil
aceitar os erros dos outros, ocultando os nossos próprios. E enquanto essas
discussões sobre a superioridade de uma cultura sobre a outra, ainda haverá
essa barbárie invasão de ofuscamento de um Estado sobre o outro, de uma cultura
massacrando outra, baseando-se em valores supostamente criados, para a ocupação
de áreas de influência, onde todos como sempre buscam interesses próprios e colocam
em segundo plano o pensamento coletivo. Uma citação dessas é exemplificada como
a invasão ao Iraque pelos Estados Unidos, cuja finalidade ainda permanece
implícita cercada pelos muros da Casa Branca, situada na capital do país,
Washington.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma importante
leitura interpretativa vem sendo realizada a partir de análises que buscam
entender a instituição do saber eurocêntrico como uma matriz legítima de
compreensão de processos econômicos, culturais e políticos, desde a gênese do
que chamamos de Modernidade. Trata-se de uma leitura crítica que se posiciona
numa perspectiva particular de análise da realidade, que tem possibilitado a
relativização, ou mesmo a inversão de práticas, assim como de significados de
categorias, fundadas na subalternização da vida de povos que entraram em
contato com as forças advindas da colonização. Como exemplo disso situa-se,
hoje, no campo da epistemologia, a necessária produção de conhecimentos que
levam em consideração a pluralidade de sistemas de produção de saberes,
particularmente aqueles voltados para a natureza1.
1 Boaventura de Sousa Santos, Maria Paula G. Meneses e João
Arriscado Nunes - Introdução: Para ampliar o cânone da ciência: a diversidade
epistemológica do mundo. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Semear outras
soluções: Os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p.32. A natureza, inclusive, tem
figurado historicamente como uma metáfora da feminilidade, que na ideologia (da
natureza) do pensamento ocidental consagrou uma perspectiva de dominação e
romantização. Sobre a exterioridade da natureza fala Neil Smith quando analisa
a forma como o pensamento ocidental opera de maneira dicotômica os conceitos de
cultura (natureza humana) e natureza universal, de sujeito e objeto, criando
uma natureza exterior que é “primitiva criada por Deus, autônoma; é a
matéria-prima da qual a sociedade é construída, a fronteira que o capitalismo
industrial freqüentemente faz recuar. Como árvores e rochas, rios e
tempestades, a natureza está esperando para ser internalizada no processo de
produção social” (Neil Smith, Desenvolvimento Desigual, Bertrand Brasil, 1988,
p. 28). Ver também Clarence J. Glacken, Huellas en la playa de rodas:
Essa
visão eurocêntrica, constituída em parte pela idéia de progresso cientifico e
tecnológico da modernidade iluminista, tem sofrido fortes embates decorrentes
da constatação de uma diversidade de leituras de mundo, expressas por meio de
práticas sociais, ou de cosmogonias, orientadas por saberes chamados de
tradicionais, indígenas, camponeses que se encontram, em muitos casos, frente a
situações de conflito por legitimação de formas particulares de produção da
vida. O discurso de globalização, a consagração de uma geopolítica neoliberal
que orienta as políticas ambientais, a transformação da natureza em mercadoria
e, por outro lado, as mobilizações por reconhecimento de identidades coletivas,
por exemplo, compõem um campo de lutas em que podemos encontrar as fronteiras
discursivas da moderno-colonialidade, num plano epistemológico de interpretação
do mundo.
Immanuel Wallerstein, pesquisador do Departamento de
Sociologia da Universidade de Yale (Estados Unidos), notório estudioso dos
processos que direcionaram a formação de um sistema-mundo moderno2, tem
contribuído para uma interpretação das matrizes ideológicas do processo de
globalização e instigado, de maneira relevante, outras leituras sobre a
constituição da moderno-colonialidade3. Dentre as suas teses já
defendidas, ancoradas na teoria de Karl Marx, consta a de que há uma unidade no
sistema capitalista mundial, marcada, essencialmente, pela contradição trabalho
e capital, onde a força de trabalho, a terra e a natureza, por exemplo, perdem
seu próprio valor intrínseco e se transformam em mercadorias.
Sob esse signo canônico do poder do capital e
dos laços (nem tão sutis) adornados em povos e territórios de, praticamente,
todo o mundo, constituiu-se uma maneira bem peculiar de ordenamento do
pensamento ocidental desde o século XVI, correspondendo também à base em que se
erguem razões discursivas das ideologias que pregam a impossibilidade de um
retorno ao eterno sentimento do mundo, perdido nas cosmogonias de povos e
culturas que sofreram o peso do metal oriundo da formação desse mesmo
sistema-mundo moderno-colonial.
Naturaleza y cultura en el
pensamiento occidental desde la Antigüedad hasta finales del siglo XVIII.
Barcelona: Ed. del Sebal, 1996; R. G. Collingwood, A ideia da natureza. Lisboa:
Presença, s/d.
2 The
Modern World-System, obra publicada originalmente em três volumes em 1974, 1980
e 1989. [Ed. Port.: O sistema mundo moderno. Porto, Afrontamento, 1990-1994.
2v.]
3 Aníbal Quijano and Immanuel Wallerstein. Americanity as a concept
or the Americas in the modern world-system. In:
International Social Science Journal. Paris: UNESCO, n. 134, nov. 1992. Ver
também um escopo de leituras orientadas pela crítica à constituição de um
sistema-mundo moderno que consagrou o pensamento europeu como expressividade
“legítima” de saber. Dentre alguns autores e obras é possível destacar: Homi K.
Bhabha. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998; Aníbal Quijano.
Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, In: LANDER, E (org.). A
colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas
latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005, pp. 227-278; Boaventura de Sousa
Santos (org.). Semear outras soluções: Os caminhos da biodiversidade e dos
conhecimentos rivais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005; Arturo
Escobar. La inveción del Tercer Mundo: construcción y desconstrucción del
desarrollo. Barcelona: Grupo Editorial Norma. 1996; Arturo Escobar. O lugar da
natureza e a natureza do lugar, In: LANDER, E (org.). Op. cit, pp. 133-168;
Carlos Walter Porto Gonçalves. A globalização da natureza e a natureza da
globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. O universalismo
europeu: a retórica do poder - WALLERSTEIN, I. pp: 186 – 190 188.
Da dominação de sociedades ameríndias ao
Orientalismo - que posteriormente povoou o imaginário europeu e aguçou os
debates entre intelectuais durante o século XX – a modernidade engendrada pela
legitimidade narrativa e militar dos poderes europeus rumina processos
históricos de interrupção de outras dinâmicas culturais e políticas. Os saberes
instituídos em confronto com a racionalidade européia são provocados a tentar,
nas palavras de Wallerstein, “recuperar a importância do homem e da humanidade
nas decisões políticas e no caminho de uma verdadeira democracia vista como
elaboração humana”, ou seja, caminhar no sentido de um “universalismo
universal”.
REFERÊNCIAS
Www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/article/viewfile/11/7,
acesso em 19 de junho de 2012.
Www.scientificcircle.com/pt/.../universalismo-europeu-retorica-poder/, acesso em 17 de junho de 2012.
Http://letraeimagem.com.br/novo/wp-content/uploads/2009/11/OIKOS_projeto_grafico.pdf,
acesso em 23 de junho de 2012.